O porquê da dor

Por que sofremos é uma indagação que fazemos muitas vezes. Para que serve a dor, afinal?

Em alguns momentos, ela é o alerta, dando-nos ciência dos excessos que estamos nos permitindo, prejudicando a maquinaria orgânica, solicitando-nos ponderação.

Constitui-se em sinal da natureza que nos informa que algum órgão não anda bem, o que, para os prudentes, significa buscar o médico, a correta medicação, seguir a prescrição devida, repouso ou exercícios.

Em outros momentos, ela funciona como elemento que convida à reflexão, a passar em revista atos e lembranças de nossa vida.

Assim é, por exemplo, nos dias da velhice que, para muitos, significa horas de imobilidade, inação e sofrimento.

É uma prova necessária para a alma que, por esse meio, adquire madureza, critério e o correto juízo a respeito das coisas da Terra e do Mundo Invisível. Avalia, pondera, conclui.

A dor tem, portanto, não somente a propriedade do resgate das culpas do passado. Executa igualmente o papel do hábil artista frente a um bloco de mármore.

A estátua, nas suas formas perfeitas, ideais, está escondida no imenso bloco.

É a dor que toma do martelo, do cinzel e, a golpes violentos, ou então sob o cuidadoso trabalho do buril, desenha a estátua viva em contornos maravilhosos.

Para que a forma seja extraída em linhas delicadas, para que o Espírito triunfe da matéria, precisamos do sofrimento, desde que não vivemos somente pelo amor e pelo bem.

E que frutos tem dado o sofrimento! Reiteradas vezes, é sob o aguilhão do luto e das lágrimas, da ingratidão, da traição das amizades e do amor, das angústias multiplicadas que o poeta verseja de forma mais terna e o músico encontra os mais sublimes acordes.

Cumpre-nos analisar a incidência da dor, em nossas vidas, atribuindo-lhe o efetivo valor.

Sob a ação das marteladas sucessivas, a moleza, a apatia e a indiferença desaparecem. Também a cólera, a dureza e a arrogância.

Em todos nós, provoca ou desenvolve a sensibilidade, a delicadeza, a bondade e a ternura.

Entendamos, pois, a dor como um dos meios de que usa o Poder Infinito para nos chamar a Si e, ao mesmo tempo, para nos tornar mais rapidamente acessível à felicidade espiritual.

O sofrimento que nos fere objetiva sempre a nossa correção, exatamente como a mãe corrige o filho para educá-­lo e melhorá-lo.

Faz-nos sentir também que o mundo em que vivemos é um lugar de passagem e não o ponto de chegada, que deveremos alcançar após exaustiva jornada.

Os animais estão sujeitos ao trabalho de evolução para o princípio inteligente que neles existe.

Através de certos padecimentos naturais os animais adquirem os primeiros rudimentos de consciência.

A dor, num sentido amplo de entendimento, será necessária enquanto o homem não tiver colocado o seu pensamento e os seus atos de acordo com as Leis Divinas.

Depois disso, ela deixará de se fazer sentir pois logo se fará a harmonia.

Fonte: Redação do Momento Espírita, com base no cap. 26 do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, ed. FEP.