O planalto da Judéia se eleva naquele local a quase 830 metros acima do nível do mar, no ponto culminante da aldeia de Efraim. Uma região bucólica, onde os damasqueiros se arrebentam em flores e frutos, e as tulipas se multiplicam em campos verdejantes com a abundância do sol dourado, cujos poentes se demoram em fímbrias coloridas, contrastando com as sombras das noites em vitória. A aldeia de Efraim é um amontoado de casas singelas entre flores silvestres e roseiras variadas, situando-se sobre o largo terraço fértil do planalto árido, onde, no entanto, abundam as nascentes cantantes, de cujas bordas se avistam ao longo o vale, onde se escondem abaixo das imensas costas talhadas, o tranqüilo Jordão e o Mar Morto. Dali, a visão dos horizontes é um convite à meditação, fazendo com que o homem se apequene ante a grandeza de Deus.
Naquela paisagem, tudo é convite às coisas divinas. Nesse plano de exuberante beleza, o Mestre elucida aos companheiros fiéis, quanto à comunhão com o Pai. Já lhes falara diversas vezes sobre a necessidade da oração e em muitas ocasiões, deles se apartara, para o silêncio da prece. Em harmonia, freqüentemente, buscava a soledade para a ligação com Deus, através desse ministério ardente e apaixonado.
Certo dia os discípulos aguardavam-no com carinho, ansiedade, e inquiriram-no quanto à melhor forma de orar, como dizer todos ditos da alma Àquele que é a Vida, e que sabe das necessidades de cada um em particular e de todos simultaneamente… Havia, em todos, o desejo veemente de apreender com o Rabi, que com tantas lições lhes dispensara antes com invulgar sabedoria! Naquele momento, um dos discípulos pediu-lhe: “Mestre, ensina-nos a Orar.”
O Mestre relança o olhar por aquelas faces expectantes que o buscavam seguir, e desejam adquirir forças, para no futuro se entregar inteiramente ao Evangelho nascente. Depois de sentir as ânsias que através dos tempos estrugiriam, nos continuadores da Sua doutrina pelos caminhos do futuro, sintetizou as necessidades humanas em sete versos, os mais simples e harmoniosos que os humanos ouvidos jamais escutaram, proferindo a oração dominical. As frases melódicas cantaram, delicadas, através dos seus lábios, como se um coral angélico ao longe modula-se um canto de incomparável melodia, acompanhando-o suavemente numa evocação: “Pai Nosso que estás nos Céus…” É a glorificação daquele que é a Vida da Vida, Causa Cáusica do existir. Natureza da Natureza – Nosso Pai!
Entenderam-se, a seguir, os três desejos do ser na direção da Vida, após a referência sublime ao doador de Bênçãos:
“Santificado seja o Teu Nome;”
“Venha a nós o Teu Reino, seja feita a Tua vontade na terra como no céu.” Os amigos sentiram, naquela ora, exaltação ao Pai nas dimensões imensuráveis do universo, respeito à grandeza da sua criação através da alta consideração do Seu nome. Resignação atual diante das suas determinações divinas e divina pré-ciência. Um canto de amor e abnegação!
A seguir, as três rogativas em que o homem compreende a própria pequenez e se levanta súplice, confiante, porém, em que lhe não será negado nada daquilo que solicita:
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje;”
“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores;”
“Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo o mal.”
A base da manutenção do corpo é o alimento sadio, diário, equilibrado, tanto quanto a vitalidade do espírito é a sintonia com as energias transcendentes.. “Dá-nos hoje…” Sustento para a matéria e força para o espírito, de modo a prosseguir no roteiro de redenção, no qual exercita as experiências evolutivas.
O reconhecimento dos erros, equívocos, danos causados a si mesmo e ao próximo… “Perdoa-nos…” Ensejando reparação através da oportunidade de refazer e recomeçar sem desânimo, superando-se e ajudando-se os que nos são vítimas… “…como perdoamos aos que nos devem”.
Forças para as fraquezas, em forma de misericórdia, multiplicando as construções das células e das energias espirituais. Reconhecimento das intocáveis fragilidades que a cada instante nos assediam e nos surpreendem… “…livra-nos de todo o mal”..
Naquele momento começava a musicalidade sublime em balada formosa na pauta da Natureza, conduzida pelo vento. Aquela era a mais singela, a mais completa oração jamais enunciada. A ponte de intercâmbio entre os dois planos do mundo estava lançada.
“Pedi e dar-se-vos-á”, exorou o Mestre Nazareno. “Ensina-nos a orar!”…rogara o discípulo ansioso…
As virações daquela hora, o embalsamoar de mil odores sutis e constantes, e a festa nos corações. O Reino de Deus está, agora, mais próximo. Divisam-se os seus limites e se vislumbram as suas construções. Nenhum abismo, nenhum óbice, vencidos os obstáculos os caminhos se abrem, convidativos, oferecendo intercâmbio àqueles homens que se levantarão logo mais da insignificância que os limita, e irão avançar em rumo do infinito doravante. Orando, estarão em comunhão permanente com o Pai.
Os discípulos compreenderam o significado da oração, transformando-se e transformando o mundo. O homem sobe ao Pai e o Pai desce à terra. Do solilóquio chega-se ao diálogo, e do diálogo o espírito sai refeito num grande silêncio de paz e vitalidade, exaltando o amor de Deus na potencialidade da oração… “Ensina-nos a orar”… “Pai Nosso que estais nos céus….”